next up previous
Next: Resolvendo a equação Up: Circuitos RLC Previous: Circuitos RLC

Obtendo a equação

Estamos agora em condições de incluir um capacitor entre os componentes do nosso circuito. Idealmente, então, o circuito conterá uma resistência (R), uma indutância (L), e uma capacitância (C). Daí o nome RLC. Em relação ao caso anterior (RL), a diferença fundamental é que, por causa da presença do capacitor, a corrente não será mais estacionária. De fato, quando o capacitor estiver se carregando (ou descarregando), haverá uma variação de carga em suas placas. Logo, alí, $\frac{\partial\rho}{\partial t}$ não será nula. Ora, pela equação da continuidade, $div\vec{j}+\frac{\partial\rho}{\partial t}=0$, logo, $div\vec{j}\neq 0$ nas placas do capacitor. (Note que, porém, $div\vec{j}=0$ nas outras partes do circuito, pois não há acúmulo de cargas a não ser nas placas do capacitor).


\begin{pspicture}(0,0)(10,4)
\psline(2,1.5)(4.3,1.5)
\psline(4.7,1.5)(7,1.5)
\ps...
...0](4.8,1){$\phi_2'$}
\uput[0](3.5,3){$+Q$}
\uput[0](4.6,3){$-Q$}
\end{pspicture}

Fig.2 - Esboço de um circuito RLC

Como no caso anterior, vamos calcular a potência dissipada pelo circuito de duas maneiras diferentes. A primeira, idêntica ao caso anterior, dá:

\begin{displaymath}
J = \int d^3\vec{r}\vec{j}.\vec{E}= R i^2
\end{displaymath} (23)

enquanto que, na segunda, escrevemos $\vec{E}$ em termos dos potenciais, obtendo
\begin{displaymath}
J = \int d^3\vec{r} \vec{j}.\vec{E}=\int d^3\vec{r}
\vec{j}....
...{\nabla}\phi
- \frac{1}{c}\frac{\partial \vec{A}}{\partial t})
\end{displaymath} (24)

A integração é estendida ao volume do condutor. Como $\vec{j}=0$ entre as placas do capacitor, podemos dividir o volume em dois:$V_1$, que é o volume do primeiro trecho do condutor, começando na base de potencial $\phi'$ e terminando na primeira placa do capacitor, e $V_2$, que começa na segunda placa e vai até a base com potencial $\phi$.Esses volumes são, portanto, disjuntos. Sejam $S_1$ e $S_2$ as superfícies que os delimitam. Considere a integral
\begin{displaymath}
I_1= - \int d^3\vec{r}\vec{j}.\vec{\nabla}\phi
\end{displaymath} (25)

que pode ser escrita como
\begin{displaymath}
I_1= - \int_{V_1} d^3\vec{r}\vec{j}.\vec{\nabla}\phi -
\int_{V_2} d^3\vec{r}\vec{j}.\vec{\nabla}\phi = F_1 + F_2
\end{displaymath} (26)


\begin{displaymath}
F_1 =- \int_{V_1} d^3\vec{r}\vec{j}.\vec{\nabla}\phi = -
\in...
...vec{r}
div(\phi \vec{j}) + \int_{V_1}d^3\vec{r}\phi div\vec{j}
\end{displaymath} (27)

Mas no interior do volume, $div\vec{j}=0$. A última integral se reduz então à sua contribuição na placa, que é $\int_{Placa}d^3\vec{r}\phi
(-\frac{\partial\rho}{\partial t})$ Usando o teorema do divergente na primeira, temos:
\begin{displaymath}
F_1 = - \int_{S_1}\phi \vec{j}.\vec{n}dS - \int_{Placa}d^3\v...
...t} = - \int_{S_1}\phi \vec{j}.\vec{n}dS - \phi_1'\frac{dQ}{dt}
\end{displaymath} (28)

Como já vimos no caso em que não havia capacitores, $F_1$ dá:
\begin{displaymath}
F_1 = \phi' i - \phi_1' \frac{dQ}{dt}
\end{displaymath} (29)

É uma brincadeira de criança mostrar que, analogamente,
\begin{displaymath}
F_2= -\phi i + \phi_2'\frac{dQ}{dt}
\end{displaymath} (30)

Para completar o cálculo de $J$ na Eq. 24 resta calcular:
\begin{displaymath}
-\frac{1}{c}\int d^3\vec{r}\vec{j}.\frac{\partial\vec{A}}{\partial t}
= -Li \frac{di}{dt}
\end{displaymath} (31)

já que se trata de uma repetição exata do caso RL. Temos, portanto,
\begin{displaymath}
J=(\phi'- \phi)i + (\phi_2'-\phi_1')\frac{dQ}{dt} - Li \frac{di}{dt}
\end{displaymath} (32)

Comparando (32) com (23), obtemos
\begin{displaymath}
(\phi'-\phi)i + (\phi_2'-\phi_1')\frac{dQ}{dt} -Li\frac{di}{dt} = Ri^2
\end{displaymath} (33)

de onde sai
\begin{displaymath}
V^{(e)}i = V\frac{dQ}{dt}+Li\frac{di}{dt} + Ri^2
\end{displaymath} (34)

onde pusemos $V=\phi_1'-\phi_2'$. que é a diferença de potencial entre as placas do capacitor.

Resta determinar a relação entre $i$ e $\frac{dQ}{dt}$. Para isso, toma-se uma superfície fechada $S_3$ (ver Fig.2). Seja $V_3$ o volume delimitado por essa superfície. Temos

\begin{displaymath}
\int_{V_3}d^3\vec{r} div\vec{j} = \int_{S_3}\vec{j}.\vec{n}dS
\end{displaymath} (35)

que dá, pela equação da continuidade,
\begin{displaymath}
-\int_{V_3}d^3\vec{r}\frac{\partial\rho}{\partial t} = -i
\end{displaymath} (36)

ou seja,
\begin{displaymath}
\frac{dQ}{dt} = i
\end{displaymath} (37)

Levando este resultado à Eq. 34, temos, cancelando um fator $i$,
\begin{displaymath}
V^{(e)}=V+L\frac{di}{dt}+Ri
\end{displaymath} (38)

Lembrando que, num capacitor, $C=\frac{Q}{V}$,
\begin{displaymath}
V^{(e)}=\frac{Q}{C}+L\frac{di}{dt}+Ri
\end{displaymath} (39)

Derivando mais uma vez e usando 37,
\begin{displaymath}
\dot{V}^{(e)}=L\frac{d^2i}{dt^2}+R\frac{di}{dt}+\frac{i}{C}
\end{displaymath} (40)

que é nossa equação final.
next up previous
Next: Resolvendo a equação Up: Circuitos RLC Previous: Circuitos RLC
Henrique Fleming 2001-11-29