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O Oscilador Harmônico

Considere a equação
\begin{displaymath}
\frac{d^2y}{dx^2}-2x\frac{dy}{dx}+2ny=0
\end{displaymath} (13)

que aparece na solução do problema de determinar os estados estacionários do oscilador harmônico. Aqui $n$ é um número qualquer, não necessariamente um inteiro, apesar da notação. Colocando-a na forma

\begin{displaymath}
(a_0+b_0x)y+(a_1+b_1x)\frac{dy}{dx}+(a_2+b_2x)\frac{d^2y}{dx^2}=0
\end{displaymath}

vemos que

\begin{displaymath}
b_0=0 \;\;\; a_0=2n
\end{displaymath}


\begin{displaymath}
b_1=-2\;\;\;a_1=0
\end{displaymath}


\begin{displaymath}
b_2=0\;\;\;a_2=1
\end{displaymath}

Temos, então,

\begin{eqnarray*}
P(z) & = & 2n+z^2\\
Q(z) & = & -2z
\end{eqnarray*}



e

\begin{displaymath}
Z(z)=\frac{1}{-2z}e^{-\frac{1}{2}\int\frac{z^2+2n}{z}dz}
\end{displaymath}

e, como

\begin{displaymath}
\int dz\frac{z^2+2n}{z}=\frac{z^2}{2}+2n\log{z}\;,
\end{displaymath}


\begin{displaymath}
e^{\int\frac{P}{Q}dz}=e^{-\frac{1}{2}(\frac{z^2}{2}+2n\log{z})}
=\frac{e^{-\frac{z^2}{4}}}{z^n}
\end{displaymath}

Logo,
\begin{displaymath}
Z(z)=-\frac{1}{2z}\frac{e^{-\frac{z^2}{4}}}{z^n}=-\frac{1}{2}
\frac{e^{-\frac{z^2}{4}}}{z^{n+1}}
\end{displaymath} (14)

e
\begin{displaymath}
y(x)=-\int_{C}\frac{e^{-\frac{z^2}{4}}}{2z^{n+1}}e^{xz}dz
\end{displaymath} (15)

Como estamos calculando uma função de onda, constantes multiplicativas não têm importância. Por isso, simplificamos para
\begin{displaymath}
y(x)=\int\frac{dz}{z^{n+1}}e^{xz-\frac{z^2}{4}}
\end{displaymath} (16)

Passemos agora à determinação do caminho de integração. Como vimos, ele deve ser tal que a função $ZQe^{zx}$ tenha o mesmo valor nos dois extremos. Essa função é, neste caso,
\begin{displaymath}
ZQe^{zx}=\frac{e^{zx-\frac{z^2}{4}}}{z^n}
\end{displaymath} (17)

Por argumentos físicos os casos de interesse são restritos a $n>-\frac{1}{2}$ (Veja nota2). Para esses valores os contornos $C_1$ e $C_2$ das figuras abaixo são adequados.

\begin{pspicture}(0,0)(12,4)
\psline[linewidth=2pt]{->}(4.5,2.1)(3,2.1)
\pslin...
...(1,4)
\psline(0,2)(5,2)
\psline(9,0)(9,4)
\psline(6,2)(10,2)
\end{pspicture}
Seja $z=X+iY$. O termo dominante no integrando é $e^{-z^2}=
e^{-(X^2-Y^2)}e^{i2XY}$. Para $Y$ pequeno em módulo, $e^{-X^2}$ garante que a função $V$ se anula nas extremidades de ambos os contornos. Se $n$ for um racional não inteiro, a origem $z=0$ será um ponto de ramificação, e haverá cortes ao longo do eixo real. Se o corte for tomado ao longo do semi-eixo real negativo, o primeiro contorno não é permitido (a curva atravessa o corte). O segundo é aceitável. A integração é complicada, e não garante que $y(x)$ seja um polinômio, como é requerido. Quando $n$ for inteiro, a situação é muito mais simples. Façamos, neste caso, a mudança de variável

\begin{displaymath}
z=2(x-u)
\end{displaymath}

onde introduzimos a nova variável complexa $u$. Uma substituição simples mostra que
\begin{displaymath}
y(x)=-\frac{e^{x^2}}{2}\int_{C'}\frac{du}{(x-u)^{n+i}}e^{-u^2}
\end{displaymath} (18)

onde o novo contorno $C'$ é descrito na figura abaixo.


Que o contorno deve ser este, segue dos seguintes fatos:a transformação é linear; uma transformação linear transforma retas em retas e círculos em círculos3; a particular transformação acima inverte o sentido de percurso no contorno e leva pequenos valores da parte imaginária de $z$ em pequenos valores da parte imaginária de $u$; o ponto $z=0$ corresponde ao ponto $u=x$ no novo contorno. Para $n$ inteiro e $x\ne u$ o integrando não tem singularidades. Por isso, o contorno pode ser deformado para


A integral é, então,
\begin{displaymath}
y(x)=e^{x^2}\oint e^{-u^2}\frac{du}{(u-x)^{n+1}}
\end{displaymath} (19)

Ora,

\begin{displaymath}
\frac{n!}{2\pi i}\oint\frac{e^{-u^2}du}{(u-x)^{n+i}}=\frac{d^n}{dx^n}e^
{-x^2}
\end{displaymath}

onde usamos a fórmula de Cauchy. Portanto,
\begin{displaymath}
y(x)=e^{x^2}\frac{2\pi i}{n!}\frac{d^n}{dx^n}e^{-x^2}\equiv y_n(x)
\end{displaymath} (20)

Mas, uma maneira de definir os polinômios de Hermite é:

\begin{displaymath}
H_n(x)=(-1)^ne^{x^2}\frac{d^n}{dx^n}e^{-x^2}
\end{displaymath}

Logo,
\begin{displaymath}
y_n(x)=K H_n(x)
\end{displaymath} (21)

onde $K$ é uma constante arbitrária, a ser determinada posteriormente pela normalização da função de onda.
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Henrique Fleming 2001-11-22