next up previous
Next: Teoria da supercondutividade de Up: Supercondutividade Teorias clássicas Previous: Transições de fase de

Teoria de Landau

Considerando as grandezas termodinâmicas do cristal a um valor dado de $\eta$, podemos pensar o potencial termodinâmico como uma função de $P$,$T$ e $\eta$. Contudo, na função $\Phi(P,T,\eta)$, a última variável desempenha um papel diferente, pois, dados $P$ e $T$ de uma maneira arbitrária, $\eta$ é determinada pelo fato de que deve ter o valor que minimiza o potencial para aqueles valores de $P$ e $T$. A continuidade da variação do estado durante uma transição de segunda ordem se exprime matematicamente pelo fato de que, nas vizinhanças do ponto de transição , $\eta$ assume valores arbitrariamente pequenos. Ali, então ,
\begin{displaymath}
\Phi(P,T,\eta)=\Phi_0+\alpha \eta+ A\eta^2+ B\eta^3+C\eta^4+...
\end{displaymath} (77)

Sendo os coeficientes $\alpha$, $A$, $B$, $C...$ funções de $P$ e $T$.

Teorema 1: se os estados com $\eta=0$ e $\eta\neq 0$ se distinguem pela simetria, então $\alpha = 0$. A demonstração deste teorema é muito longa para estas notas2.

Teorema 2: no ponto de transição , $A(P,T)=A_{c}(P,T)=0$.
Demonstração :a) Na fase simétrica, $\eta=0$ deve corresponder a um mínimo de $\Phi$. Logo, devemos ter $\frac{d\Phi}{d\eta}\vert _{\eta=0}=0$ e $\left(\frac{d^2\Phi}{d\eta^2}\right)_{\eta=0}>0$ Esta última condição é
\begin{displaymath}
\left(\frac{d^2\Phi}{d\eta^2}\right)_{\eta=0}=2A>0
\end{displaymath} (78)


b) Na fase não simétrica, $\eta\neq 0$ deve corresponder a um mínimo de $\Phi$, isto é, para cada par (P,T) deve haver um mínimo de $\Phi$ em um ponto diferente de zero. Para que isto ocorra, $\Phi$ deve ter o aspecto da figura, que é o que se obtém tomando $A<0$ e supondo que as demais contribuições sejam, no global, positivas. De fato,
i)Suponha $B\neq 0$. Então , devemos ter

$\displaystyle \frac{\partial \Phi}{\partial \eta}$ $\textstyle =$ $\displaystyle 2A\eta+3B\eta^2+4C\eta^3
\approx 2A\eta+3B\eta^2 =0$ (79)
$\displaystyle \frac{\partial \Phi}{\partial eta^2}$ $\textstyle =$ $\displaystyle 2A+6B\eta+12C\eta^2 \approx
2A+6B\eta > 0$ (80)

para $\eta>0$.

Da primeira, $\eta=-(2A/3B)$. Levando à segunda, $-2A>0\leadsto A<0$.
ii)Se $B=0$,

$\displaystyle \frac{\partial \Phi}{\partial \eta}$ $\textstyle \approx$ $\displaystyle 2A\eta + 4C\eta^3
\leadsto \eta^2=-\frac{A}{2C}$ (81)
$\displaystyle \frac{\partial^2 \Phi}{\partial \eta^2}$ $\textstyle \approx$ $\displaystyle 2A+12C\eta^2
\leadsto -4A>0$ (82)

Então , como $A>0$ de um lado do ponto de transição e $A<0$ do outro,
\begin{displaymath}
A_{c}(P,T)=0
\end{displaymath} (83)

Teorema 3:
$\displaystyle B_{c}(P,T)$ $\textstyle =$ $\displaystyle 0$ (84)
$\displaystyle C_{c}(P,T)$ $\textstyle >$ $\displaystyle 0$ (85)

Pois então , no ponto de transição ,
\begin{displaymath}
\Phi=\Phi_{0}+B_{c}\eta^3+C_{c}\eta^4
\end{displaymath} (86)

Para que haja mínimo para $\eta=0$ é preciso que
\begin{displaymath}
\frac{\partial \Phi}{\partial \eta}=3\eta^2 B_{c}+4\eta^3 C_{c}
\end{displaymath} (87)

mude de sinal ao passar por $\eta=0$. Para isso, $B_{c}=0$. É óbvio que o mínimo implica $C_{c}>0$. Por continuidade, $C$ é positivo também nas vizinhanças do ponto de transição . Há duas situações possíveis:
1) $B(P,T)\equiv 0$. ($B$ é identicamente nulo). A condição que determina o ponto de transição é, então ,
\begin{displaymath}
A(P,T)=0
\end{displaymath} (88)

e se tem uma linha de pontos de transição no plano $P,T$.
2)$B$ não é identicamente nulo. Há então duas equações
\begin{displaymath}
B(P,T)=0
\end{displaymath} (89)

e
\begin{displaymath}
A(P,T)=0
\end{displaymath} (90)

Os pontos de transição são isolados.

Usaremos o nome de transições de segunda ordem apenas para o caso 1). Logo, estaremos sempre supondo $B=0$. A forma geral para $\Phi$ é, então ,

\begin{displaymath}
\Phi(P,T,\eta)=\Phi_{0}(P,T)+A(P,T)\eta^2 + C(P,T)\eta^4+\ldots
\end{displaymath} (91)

sendo $C>0$ e
$\displaystyle A$ $\textstyle >$ $\displaystyle 0 \; \; \; \; na \; fase \; simetrica$ (92)
$\displaystyle A$ $\textstyle <$ $\displaystyle 0 \; \; \; \; na \; fase \; as simetrica$ (93)
$\displaystyle A(P, T)$ $\textstyle =$ $\displaystyle 0
\; \; \; \; determina \; os \; pontos \; de \; transicao$ (94)

Fixando-se a pressão , examinemos $\Phi$ do ponto de vista da temperatura. Nas vizinhanças do ponto de transição $T_{c}$, temos

\begin{displaymath}
A(T)=a(T-T_{c})
\end{displaymath} (95)

Para $C$, usaremos
\begin{displaymath}
C(T)=C(T_{c})
\end{displaymath} (96)

Para determinar $\eta$ em função da temperatura, põe-se
\begin{displaymath}
\frac{\partial \Phi}{\partial \eta}=2\eta(A+2C\eta^2)=0
\end{displaymath} (97)

que dá
$\displaystyle \eta$ $\textstyle =$ $\displaystyle 0$ (98)
$\displaystyle \eta^2$ $\textstyle =$ $\displaystyle -\frac{A}{2C} = \frac{a}{2C}(T_{c}-T)$ (99)

Note-se que
\begin{displaymath}
\frac{\partial \Phi}{\partial \eta^2}=2A+12C\eta^2
\end{displaymath} (100)

Para $\eta^2=-(A/2C)$, temos
\begin{displaymath}
\frac{\partial \Phi}{\partial \eta^2}=-4A
\end{displaymath} (101)

Para que isto seja um mínimo, $A<0$. Isto é, $\eta^2=-(A/2C)$ é um estado de equilíbrio na fase em que $A<0$ (não simétrica). Inversamente, para $\eta=0$,
\begin{displaymath}
\frac{\partial^2\Phi}{\partial \eta^2}
\end{displaymath} (102)

mostrando que $\eta=0$ é um estado de equilíbrio para a fase na qual $A>0$ (simétrica). A solução $\eta=0$ na fase não -simétrica é um máximo do potencial termodinâmico!

Para calcular a entropia usamos

\begin{displaymath}
S=-\left(\frac{\partial \Phi}{\partial T}\right)_{P}=
-\left...
...}{\partial \eta}\right)_{P,T}\frac{\partial \eta}
{\partial T}
\end{displaymath} (103)

e, pela condição de mínimo, $\frac{\partial \Phi}{\partial \eta}=0$, logo,
\begin{displaymath}
S=-\left(\frac{\partial \Phi}{\partial T}\right)_{P,\eta}
\end{displaymath} (104)


$\displaystyle S$ $\textstyle =$ $\displaystyle -\frac{\partial \Phi_{0}}{\partial T}-\eta^2\frac{\partial A}
{\partial T}+O(\eta^4)$ (105)
$\displaystyle S$ $\textstyle =$ $\displaystyle S_{0} - \frac{\partial A}{\partial T}\eta^2$ (106)

Esta expressão é válida nas vizinhanças do ponto de transição . Na fase simétrica, $\eta=0$ e então $S=S_{0}$. Na fase não -simétrica, $\eta^2=-(A/2C)$. Logo,
$\displaystyle S$ $\textstyle =$ $\displaystyle S_{0}+\frac{A}{2C}\frac{\partial A}{\partial T}$ (107)
$\displaystyle S$ $\textstyle =$ $\displaystyle S_{0}+\frac{a^2}{2C}\left(T-T_{c}\right)$ (108)

Resumindo,
    $\displaystyle S_{0} \;\;\; para \;\;\;T>T_{c}$ (109)
$\displaystyle S$ $\textstyle =$ $\displaystyle S_{0} \;\;\; para \;\;\; T=T_{c}$ (110)
    $\displaystyle S_{0}+\frac{a^2}{2C}\left(T-T_{c}\right)\;\; para\;\;\; T<T_{c}$ (111)

logo, a entropia é contínua na transição .

De (111) se pode determinar facilmente o calor espec
i fico a pressão constante

\begin{displaymath}
C_{P}=T\left(\frac{\partial S}{\partial T}\right)_{P}
\end{displaymath} (112)

obtendo
    $\displaystyle C_{p0} \;\;\; para \;\;\; T>T_{c}$ (113)
$\displaystyle C_{p}$ $\textstyle =$ $\displaystyle C_{p0}+\frac{a^2 T_{c}}{2C} \;\;\; para\;\;\; T=T_{c}$ (114)
    $\displaystyle C_{p0}+\frac{a^2 T}{2C} \;\;\; para \;\;\; T< T_{c}$ (115)

sendo $C_{p0}=T\left(\frac{\partial S_{0}}{\partial T}\right)_{P}$.

O calor específico é então descontínuo na transição . Uma informação importante é que, como $C>0$, no ponto de transição se tem $C_{p}>C_{p0}$, isto é, o calor específico aumenta na passagem da fase simétrica para a não-simétrica.

Outros saltos podem ser obtidos das relações $\Delta V=0$ e $\Delta S=0$ da forma seguinte: a curva de transição , dada por $A(P,T)=0$, tem uma equação $P=P(T)$. Derivando a equação $\Delta V=0$ ao longo da curva de transição em relação à temperatura, temos

\begin{displaymath}
\frac{d}{dT}\Delta V\left(P(T),T\right)=
\Delta \left[\left(...
...frac{
\partial V}{\partial P}\right)_{T}\frac{dP}{dT}\right]=0
\end{displaymath} (116)

isto é,
\begin{displaymath}
\Delta\left(\frac{\partial V}{\partial T}\right)_{P}+\frac{dP}{dT}
\Delta\left(\frac{\partial V}{\partial P}\right)_{T}=0
\end{displaymath} (117)

Por outro lado, de $\Delta S=0$ segue que
\begin{displaymath}
\Delta\left(\frac{\partial s}{\partial T}\right)_{P}+
\Delta\left(\frac{\partial S}{\partial P}\right)_{T}\frac{dP}{dT}=0
\end{displaymath} (118)

Ora,
$\displaystyle S$ $\textstyle =$ $\displaystyle -\left(\frac{\partial \Phi}{\partial T}\right)_{P}$ (119)
$\displaystyle V$ $\textstyle =$ $\displaystyle \left(\frac{\partial \Phi}{\partial P}\right)_{T}$ (120)

Logo,
\begin{displaymath}
\left(\frac{\partial S}{\partial P}\right)_{T}=-\frac{\parti...
... P \partial T}=-\left(\frac{\partial V}{\partial T}\right)_{P}
\end{displaymath} (121)

e, então , de (118),
\begin{displaymath}
\frac{\Delta C_{p}}{T}-\frac{dP}{dT}\Delta\left(\frac{\partial V}{\partial T}
\right)_{P}=0
\end{displaymath} (122)


next up previous
Next: Teoria da supercondutividade de Up: Supercondutividade Teorias clássicas Previous: Transições de fase de
Henrique Fleming 2002-04-15