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Apêndice

A equação
\begin{displaymath}
\int dV u\vec{\nabla}^2\frac{1}{r}=-4\pi u(0)
\end{displaymath} (30)

merece tratamento especial. Em primeiro lugar, porque uma cálculo apressado de $\vec{\nabla}^2\frac{1}{r}$ dá zero, o que daria zero para o primeiro membro. Mas esse cálculo está errado, pois a função $\frac{1}{r}$ é descontínua no ponto $r=0$. Uma maneira de descobrir que o laplaceano de $\frac{1}{r}$ não é sempre zero é pelo uso do teorema do divergente. De fato,

\begin{displaymath}
\vec{\nabla}^2\frac{1}{r}=div \; grad \;\frac{1}{r}
= -div\;\frac{\vec{r}}{r^3}
\end{displaymath}

logo, tomando uma esfera de raio $R$
\begin{displaymath}
\int dV \vec{\nabla}^2\frac{1}{r}=-\int dV div \; \frac{\vec{r}}{r^3}
=-\int_{S}\frac{\vec{r}}{r^3}.\vec{n}dS
\end{displaymath} (31)

e isto é o fluxo do campo elétrico $\frac{-\vec{r}}{r^3}$, que é o campo de uma carga -1 colocada na origem. Logo, pelo teorema de Gauss, esse fluxo é igual a $-4\pi$. Conseqüentemente, o primeiro membro da Eq.(31) não pode ser zero, ou seja, $\vec{\nabla}^2\frac{1}{r}$ não pode ser identicamente zero. No entanto, para $r \neq 0$, o laplaceano é nulo, pois a função é contínua, e o cálculo direto está correto. Logo, é no ponto $r=0$ que acontece alguma coisa interessante. Incidentalmente, mostramos que
\begin{displaymath}
\int dV \vec{\nabla}^2 \frac{1}{r} = -4\pi
\end{displaymath} (32)

Voltemos ao cálculo da Eq.(30). Note-se que, para qualquer $r \neq 0$, $\vec{\nabla}^2\frac{1}{r}=0$, ou seja, o valor da função $u$ para $r \neq 0$ é irrelevante para o cálculo da integral, uma vez que vem sempre multiplicado por $0$. O único valor de $u$ que interessa é $u(0)$. Logo, a integral não se altera se substituirmos $u$ pela função constante que tem o valor $u(0)$ em todos os pontos. Assim,
\begin{displaymath}
\int dV u \vec{\nabla}^2\frac{1}{r} = \int dV u(0) \vec{\na...
...{1}{r} = u(0)\int dV \vec{\nabla}^2 \frac{1}{r} =
-4\pi u(0)
\end{displaymath} (33)

que é o resultado que queríamos obter. Em tratamentos mais avançados se demonstra a seguinte relação:
\begin{displaymath}
\vec{\nabla}^2\frac{1}{r}=-4\pi \delta(\vec{r})
\end{displaymath} (34)

onde, no segundo membro, aparece a ``função'' delta de Dirac. Este resultado sintetiza o resultado anterior e muitos outros semelhantes. Veja, por exemplo, as minhas notas sobre as funções de Green, e sobretudo, a grande obra de Dirac [5], ``Principles of Quantum Mechanics'', tida por muitos como o maior livro de Física desde os ``Principia'' de Newton[6].
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Henrique Fleming 2002-04-13